Sobre encontros e uniões descartáveis. Conhecer, ou nem conhecer, e suas armadilhas.
O ritmo online e sua velocidade tem colaborado para as precipitações de julgamento. Hoje em dia, temos toda a informação que precisamos, muito rapidamente, ou, na verdade, apenas achamos que temos, de fato, toda a informação de que precisamos.
Na realidade, seria necessário meses ou anos de convivência e intimidade, para conhecer muito bem seus pretendentes, ou ter a capacidade de julgar alguém.
As expectativas pessoais são tão altas, que lembram os famosos sorteios milionários da loteria. A criação de um mundo irreal, belo, sem dor e sem defeitos, em que todos se amam e vivem felizes.
Queremos, no mesmo ritmo da internet, nos superar em inteligência, perfeição da beleza, situação financeira e performance sexual.
Muitas vezes essa pressão em sermos os melhores, vem do fato de consumirmos essa desilusão digital, onde não se tem a intenção de alimentar a ilusão alheia, mas, na ânsia de se apresentarem bem, passam outra impressão que não a de si mesmos.
Provavelmente mostram o que idealizam para si, como se veem meses adiante, ou até mesmo como se veem no atual presente, mas essa não é necessariamente a verdade.
Consumindo a desilusão alheia digital, ficamos mais exigentes sobre os outros e com nós mesmos. Criamos a cobiça sobre a falsa realidade alheia. É o suficiente para que alguns de nós chegue à conclusão de que não servimos para suprir as tais lotéricas expectativas, sejam do seu ponto de vista sobre si mesma, ou pelo ponto de vista daquele que pretendemos conquistar.
A facilidade de acesso à “ vida perfeita” exposta pelo outro gera comparação. Desse modo, o nível de frustração, cobrança, insegurança e ansiedade, se tornam relevantes e contínuos.
Utilizamos as redes sociais como forma de fugir da realidade, sem encarar de fato nossas fraquezas, dores, qualidades. Nossa Realidade. Desse modo, mergulhamos neste mundo paralelo. Lá, tudo é mais colorido e os likes fazem a vez da validação que não encontramos em nós mesmos.
É preciso se questionar: o que você realmente deseja viver? Qual a distância que deseja criar entre quem você é no mundo real e quem você quer parecer no mundo virtual?
É preciso nos desapegarmos de tais pretensões para ter a oportunidade de conhecer, apegar-se, amar, e sermos felizes de verdade.
A tecnologia pode ser uma porta indispensável para promover encontros maravilhosos, mas nunca será tão humano, com todas as nuances que a humanidade nos confere, quanto o universo real.
Hoje, deixamos de compensar a intimidade, pelo pré julgamento, a falta de intenção. Abrimos mão de oportunidades por exigirmos demais, sabendo de menos. As expectativas altas e a vontade de ostentar, faz com que os erros destacam-se mais do que as qualidades.
Quanto às uniões descartáveis, acontecem sempre por pensarmos ter algo para melhorar, ou por pensarmos que falta algo para que se haja vontade de se envolver.
E como decidimos isso? Baseado nas informações que temos e nosso julgamento precipitado?
Não se dão a chance de descobrir a verdade, trabalhar juntos para uma melhora. Queremos tudo do melhor e imediatamente. Não se tem mais paciência de crescer junto.
Curtas uniões, ou uniões que nem acontecem, pela prevalência de valores desequilibrados e necessidade de querer o mais no futuro, em vez de ver os pontos positivos do presente e do passado.
Que a sorte seja lançada e que haja inteligência emocional suficiente para não deixar a grande chance passar.
Casais inteligentes crescem juntos e o contrário se perde no tempo… Como um velho e apagado bilhete da loteria.