Francine quando me procurou para falarmos pela primeira vez, disse-me que seu marido deixou de ser o cara meigo e certinho do início da relação. Ela conta que a gentileza, a forma como lhe tratava bem a motivava a aceitar seu pedido de casamento. Embora tudo tenha ocorrido de forma breve, já que engravidou com apenas três meses de namoro, o rapaz demonstrava pressa para ficarem juntos.
O casamento aconteceu, Luana chegou, e seis anos mais tarde foi a vez de seu irmãozinho, o Lucas.
Leandro, marido de Fran, investiu todo seu tempo no trabalho. A sua presença em família passou a ser cada vez mais escassa. Com a chegada dos filhos, sua vontade em proporcionar conforto e estabilidade financeira aumentou. Tudo isso, somado a outros fatores, o impedia de diminuir o tempo dedicado ao trabalho para estar em casa.
Desta forma, Francine investia tempo dobrado para cumprir os dois papéis, o dela e o dele, tanto na vida dos filhos quanto no lar da família. O prejuízo muito provavelmente será avaliado daqui a alguns anos quando ela se der conta do tanto que deixou de fazer em benefício de si mesma.
Porém o cerne da questão é a mudança brusca relacionada ao comportamento de Leandro. Cada vez mais, o jovem assume responsabilidades financeiras e isso reflete de forma negativa na qualidade de sua vida e em seu humor. Afinal, falta tempo para dedicar ao lazer e ao descanso.
Veja bem, é previsível que em algum momento a crise se instale nesta relação.
Leandro, sem perceber, se comporta de forma autoritária já que sua esposa depende financeiramente dele. Os filhos também percebem a impaciência do pai. Embora haja muito mais do que a contrapartida justa por parte da esposa, o rapaz sente como se estivesse em desvantagem em se tratando de esforços. É como se tivesse créditos para usar a seu favor em detrimento do bem estar do outro… Fran, por sua vez, anda esgotada e fala de forma rígida. Tanto ela quanto o marido foram acometidos pelos excessos e abusos, frutos da idolatria por um padrão ideal. A família se torna escrava de um circuito vicioso sem fim e que, no final das contas, não funciona e não compensa. Ninguém tem a paz que merece em um ambiente tão pesado.
Como identificar o abuso na relação:
- Sobrecarga de responsabilidades;
- Excesso de ciúmes ou controle;
- Manifestações exageradas de amor;
- Mau trato ou agressão verbal;
- Ameaças e chantagens;
- Rigidez ou autoritarismo;
- Competição ou desrespeito;
- Dependência abusiva financeira;
A desculpa daquele que transfere para o outro suas próprias responsabilidades, é a necessidade de receber ajuda momentânea.
No entanto, essa”ajuda momentânea” pode ser vitalícia, caso a vítima permaneça inerte e vulnerável.
A vítima dos abusos deve entender que não existe “ajuda” e sim a necessidade de cada qual assumir suas próprias obrigações ou arcar com as consequências de suas escolhas.